domingo, 21 de junho de 2015

Distância temporária

A saudade é imensa
O choro cai as vezes
O cheiro desperta lembranças

Mas nenhuma distância é eterna

A família e os amigos sentem dor
Os que foram salvos por tuas mãos, gratidão
O tempo pode ser longo

Mas nenhuma distância é eterna

Siga em paz e com amor
Leve em mente tudo o que realizou
O mundo é grande e tem chão pela frente

Mas nenhuma distância é eterna.


(Mariana Cortez)

segunda-feira, 15 de junho de 2015

A Saudade

Todos os dias ele visitava seus amigos. Mais para o fim-da-tarde, depois que havia completado as tarefas chatas e entediantes do dia, não havia nada melhor para ele do que se sentar e relembrar com suas pessoas preferidas no mundo inteiro como a vida costumava ser divertida quando eles todos se sentavam na mesa do bar depois das aulas e ficavam até de madrugada. Agora tudo era diferente, os encontros terminavam cedo, no máximo às 22h, quando seu celular tocava, indicando que estava na hora de voltar para se arrumar e dormir, para no dia seguinte tudo começar novamente.


Ele sorria quando olhava para sua mulher, sempre ao lado de seu cunhado, que também era seu melhor amigo, padrinho do casamento e do primeiro filho. Era engraçado de como tudo se encaminhou para todos conseguirem ficar juntos durante tanto tempo, mesmo depois de tudo o que acontecera. Aquela visão fazia seu peito apertar com as saudades de poder estar de novo reunido na faculdade com aqueles amigos. Mas a vida não deixava, porque ser adulto sempre significou para ele ocupar um posto de trabalho que ele odiava e abandonar todos os sonhos que ele outrora teve.


- Você está linda como sempre… - Murmurou para sua mulher. Seu rosto era delicado, pele escura e cheia de marcas nas bochechas que estavam já marcadas pelo sorriso recorrente de sua felicidade interminável. Uma mulher apaixonada, alegre e que o ajudou a se levantar tantas e tantas vezes no auge de sua depressão.


- Sabe, eu sinto falta de vocês quando não os vejo. - Seus olhos se encheram de lágrimas com a primeira frase. - Minha vida não tem sido nem de perto o que era quando estávamos na faculdade. É difícil arranjar forças para levantar de manhã, eu me sinto sozinho em um lugar que não foi feito para mim. Todo dia eu recebo ordens, todo dia tomo remédios tão fortes que me deixam em um estado sonolento e passivo o dia inteiro. Só consigo passar por tudo isso porque penso em quando vou encontrar vocês. Meus amigos são minha força. -


O silêncio continou predominando. Ele se sentia encarado e até julgado. Será que sua depressão estava voltando? Será que seus amigos pensavam que ele era um covarde que sequer conseguia arranjar motivação para viver? Um silêncio é a coisa mais difícil de se interpretar, porque ele te dá informações muito mais ricas e, ao mesmo tempo, imprecisas do que qualquer palavra jamais conseguirá.Uma tela preta é o auge da subjetividade, porque tem tantos significados e tantas simbologias que é fácil se perder.


- Vocês me entendem, não é? Eu estou me sentindo vulnerável por ter soltado tudo isso de repente, mas eu posso contar com vocês, não é mesmo? Vocês sempre foram ótimos para mim. - Se sentindo apoiado novamente por suas amizades, ele sentou-se e ficou encarando o céu que estava ficando noturno aos poucos, enquanto o Sol ia embora. - Estar aqui à essa hora é perigoso? Ir para casa também não é nenhum pouco fácil. Talvez estejamos presos aqui durante um tempo. Já são mais de dez da noite. -


A noite estava maravilhosa, de fato. A lua brilhava sobre as árvores que rodeavam aquele cenário e o vento fresco batia nas folhagens, dando uma sensação de tranquilidade para ele, que acabara de fazer uma confissão tão dolorosa, dando-se conta de quanto odiava sua vida. Queria mais do que tudo poder voltar no tempo, para quando um clima agradável ou um cenário maravilhoso realmente afetavam no seu humor.


- Dizem que eu preciso seguir em frente, sabe? -


Sua voz foi enfraquecendo. Seus olhos vermelhos e com lágrimas brotando ardiam.


- Mas está ficando cada vez mais difícil. Eu quero vocês de volta. -


O tempo passava, a noite ia se iluminando com o sol que nascia do lado oposto à lua.


- Vocês não tem noção da falta que vocês me fazem. -


Ele estava deitado no chão, postrado.


- Porque eu tinha que ficar por último? -


O sol iluminou todo o lugar, mostrando não só ele, mas todos os arredores e aonde ele estava deitado.


Em volta daquele homem velho, caído, lápides se revelavam já um pouco gastas. Ele estava jogado em cima do retrato de sua mulher, já morta há vinte anos. Ao seu redor, todos os seus amigos também jaziam representados em epitáfios.

Não muito depois do nascer do sol, uma ambulância parou na frente do cemitério e levou o homem embora, deixando para trás as únicas coisas que ele amava. Assim como o tempo fez.

By Vitor Murano

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Sarau das Artes

Não consigo aceitar o tempo. Acho que é porque não entendo términos, e é isso que o tempo faz, termina com coisas... e pessoas. Minha vida hoje não é a mesma de cinco anos atrás, nem de dois, sequer de oito meses.

Imagine então minha avó, ou a sua no caso. Estive hoje em um sarau onde só haviam pessoas idosas, foi lindíssimo, e triste. Uma ode a um tempo que não é mais, uma volta a algo que jamais irá retornar. Ouvi Roberto Carlos e música Italiana, ouvi Brasileirinho e vi senhoras dançando ao som de um samba que não era. Vi e senti significado em cada uma dessas ações, era palpável.

E acima de tudo ouvi lamentos de amores que não foram, ou ainda pior, que já foram. Um amor doído sim, mas com resiliência, com compreensão e aceitação. É simples e simplista nos desfazermos de nossos anciões, mas se os juntarmos e formos capazes de apenas observar, sem julgar ou interferir de lá tiraremos lições para toda uma falange das nossas maiores dores.



Adriano Leonel

quinta-feira, 4 de junho de 2015

mares que secam

Uma das coisas que mais gosto nesse bairro é a locadora. Sei que nunca conseguirei ver nem 1/4 de todos aqueles filmes disponíveis lá e também sei que para ver muitos daqueles títulos, não preciso pagar nem sair de casa porque é possível conseguir pela internet. Alguns outros títulos não são tão fáceis de conseguir e muitas vezes fui até a locadora buscar. Outros eram filmes lindos e quando vimos na banquinha central dos filmes para venda, não resistimos e trouxemos para casa. A locadora é um mar de filmes. Sempre quando vamos lá, a realidade bate em minhas costas como se avisasse: há muita coisa que você ainda não viu, Mayra. E muita coisa que você deveria ver. Mas me sinto reconfortada porque há essa locadora perto de casa e parece que ainda tenho jeito, apesar de todos os filmes que ainda não vi. Há um mar de filmes bem perto de mim, filmes que não encontro na internet.
Por outro lado, sentimos uma tristeza íntima ao entrar na locadora da esquina. Porque afinal de contas, tem muita coisa na internet e as locadoras vão perdendo a sua função porque não são mais o único lugar com filmes disponíveis. Sabemos que é uma questão de tempo, que com o tempo as locadoras vão sumindo bem como as bancas de jornal. Na minha infância havia muitas, hoje já não são tantas e muitas delas ganham mais vendendo crédito pra celular. Há muito tempo eu não tinha férias e nessas primeiras férias que tivemos em anos, pegamos muitos filmes na locadora e lembrei dessa maravilhosa sensação de entrar num mar de filmes e poder enxergar tantas possibilidades no horizonte,
Mas o sol se põe e o Beethoven mandou mensagem dizendo que a nossa locadora vai fechar. Nos sentimos culpados. Deveríamos ser mais sérios com o nosso princípio de contribuir com os comércios da nossa região. A locadora está vendendo todos seus filmes. Peixinhos perdidos num grande mar, esperando lugares novos para morar. A minha impressão diante da água que seca e dos peixes que precisam de um novo lar, é que eu nunca voltei com tantos filmes bons para casa.

(Mayra Guanaes)

terça-feira, 2 de junho de 2015

Mar de pessoas

Todos precisam encontrar seu brilho no mar de pessoas que andam na rua.
Grande parte tenta se destacar, mas só se perde e se mistura cada vez mais.
Isso faz parte da vida, se conhecer, saber quem somos e o que faz parte de nós.
Ou se perder e virar um só naquele mar de pessoas que sempre vemos na rua.
- E nunca lembramos -.

By Vitor Murano

domingo, 31 de maio de 2015

Vou

Pai e mãe, irmã, amigos e ele - Desculpem-me, mas preciso ir. Não foi por falta de amor, atenção, carinho ou cuidado - talvez tenha sido por tanto que aprendi a olhar o mundo com outros olhos. Dessa vez é chegada a hora de não só olhar, mas, sim, entrar. Me despedirei dos chefes e parentes, arrumarei a mochila e um caderno para criar pelo caminho. É chegada a hora! Preciso ir. E vou.



Mariana Cortez

quarta-feira, 27 de maio de 2015

CARBONÍACO

Eu, filho de Lúcifer, não aceito viver em terra de satã
Nós diabos (do outro lado da atmosfera)
gritamos a deus: “é proibido nascer!”


Aqui onde eu vivo a calçada é estreita
prédios cada vez mais altos, cidade sem horizonte
expulsos da tribo querem-nos em asfalto

ocupando fábricas e quem não é mão
é mente,
iludem os jovens com carreiras

[você é pesquisador, administrador ou artista?]

Projeto autônomo (?) só pra distrair a própria existência

estamos presos ao próprio sistema;

criamos máquinas para nos criar


E tudo isso pra que?
Pra nos livrar dos ataques dos leões?
[... jacarés, elefantes e mosquitos?]

Será?
E agora?
Quanto tempo espero?
O que você sente?

Que centelha é essa?

Não é Pã, nem Oxalá, se tudo é feito de átomo
e átomo é feito de energia

pois bem, meus humanos;

...deixe ser a luz da manhã


(Paulo Afonso S. da Silva)

terça-feira, 26 de maio de 2015

Centelha

Olhamos para os lados e fingimos que nada sentimos ao nos tocar com nossos olhos. Existe algo, uma centelha, um sentimento, que é estranho demais para ser explorado e dá medo. Será?


Olharmos para nós mesmos e nos perguntamos o que está acontecendo. Nós não nos conhecemos de fato, porque mesmo nossos sentimentos às vezes são completos estranhos. E agora?


No meio de tanta coisa, eu apenas olho para você e me entrego. Me entrego ao desejo de avançar um pouco mais e ousar um pouco, até você se entregar para mim. Quanto tempo espero?

Eu não quero nada que você também não queira. Se for pedir demais, eu me escondo, finjo que nada aconteceu. O verdadeiro sentimento sobrevive até platônicamente, mas agora diga: O que você sente?

By Vitor Murano

sexta-feira, 22 de maio de 2015

P-M

Porque pedes palavras
se só de sentimentos sou
Tento teu torpor todo o tempo
mas minguo às mazelas (a)morosas



Nessuno

quinta-feira, 21 de maio de 2015

foi tudo um prazer

irei guardar as esperanças

seguir sem medo

quarta-feira, 20 de maio de 2015

N O V O

Na terra do santo oco
só tenho os trocados do bolso
Não quero mato vazio
nem a cidade dos muitos mil
Foi tudo um prazer! Mas;
irei guardar as esperanças,
embrulhar os desejos

seguir sem medo...Já era hora,
meia noite, descobri a minha
Marla Singer,
habitava em mim, em dois pedaços; 
fui ao chão...
e lá vou ficar
Revolucionei a mim mesmo; 
larguei tudo!


(Paulo Afonso S. da Silva)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Carpe Noctem

Se eu olho para a beleza da madrugada enquanto estou sozinho em casa, sinto melancolia. Melancolia porque esse é meu período preferido do dia. Porque é na madrugada em que a vida mais acontece, em que temos nossas melhores horas. É a madrugada também que nos abraça quando estamos tristes e precisamos chorar sozinhos. Não importa se estamos sozinhos, com uma companhia, ou cercados de amigos: quando abrimos mãos das horas de sono para nos aventurarmos fora de casa, destravarmos nossa criatividade ou até mesmo nos entregarmos de corpo e alma para alguém, dificilmente nos arrependemos, porque até nos piores erros da vida há uma lição preciosa a ser aprendida.


Muitos me questionariam, dizendo que a vida acontece durante o dia, quando construímos nossa carreira, estudamos e convivemos com as pessoas de verdade, mas pensem bem: não é nesse momento em que nós mais nos mascaramos e nos misturamos à sociedade? Alex DeLarge não mostrava sua verdadeira face durante o dia, mas sim quando se juntava à seus druguis e provocava a ultraviolência nas ruas, assim como Tyler Durden quando cria seu Clube da Luta: as pessoas encontram as mais variadas formas de aliviar a pressão do seu dia-a-dia nas madrugadas.


Seja nas festas, na violência, nas drogas ou no sexo. Na madrugada, as pessoas são livres.


Claro que não estou falando da madrugada das cidades grandes opressoras, dos crimes (exceto pelo meu exemplo de Laranja Mecânica, meu amor por essa obra justifica o exemplo mal-colocado), e sim da madrugada libertadora, em que as pessoas se libertam das amarras da sociedade para serem felizes. Aproveitem a madrugada, porque foi nela em que eu aprendi a dançar, a sorrir, a (me) amar.

Carpe Noctem.

By Vitor Murano

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Minha dança é morta e as minhas pernas já não aguentam o solo

Irei enforcar o DJ.

Nesta festa da vida humana.

Sim, se o som está ruim e não consigo brilhar na pista a culpa é do DJ.

Hoje eu vim para a festa, fiquei diva. Tomei banho, lavei o cabelo, passei perfume, fiz um make que vi na revista, coloquei a minha melhor roupa, a minha roupa de seduzir, a minha roupa de matar. Separei o dinheiro que guardei durante a semana e hoje vou beber e dançar, vou brilhar, vou arrasar.

Eu confirmei o evento no face, compartilhei o flyer da festa com hashtag, tenho nome na lista. Consegui um desconto.

Chego no bar sozinha e observo o ambiente. Está tocando alguma coisa pra esquentar, uma daquelas bandas mais ou menos que não é boa nem ruim, legal nem chata e o vocalista não é feio nem bonito. Você sabe.

Me sinto sozinha e pego uma cerveja. Encosto no balcão com a minha latinha e pareço menos tensa. Fico sentada neste banquinho redondo por bastante tempo.

Fico na expectativa de tocar uma música contagiante que me faça levantar e dançar.

E isso não acontece. Por isso largarei tudo, porque a música que nos orienta, não me representa.

E essa era só mais uma festa da vida humana. Porque parece que a vida é essa espera por algo que nos faça levantar para dançar.

(Mayra Guanaes)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

NÓ DE VERSOS_ESTROFE DA VIDA

Em breve largarei tudo Tudo que eu penso ter Tudo que eu achei poder ser Minha dança é morta e as minhas pernas já não aguentam o solo
Deixarei todas as coisas Coisas que eu quis colherCoisas que eu tentei fazer
Em breve nada mais será escritoMeu diário estará morto
Em breve não terei encontros    Irei enforcar o DJ
Este é meu pânico oitentista
Nesta festa da vida humana
a música que nos orienta
não me representa
Em breve sentirei da vidacoisas sem esperanças alado e cansado estarei perdido na rota, Na rotina de muitosque já nasceram assimPor breve entendo a vidaexalto minha despedida
  Bye, bye, bobão! O que é o mundo então?
Descobrirei sem dó de mim
Porque evitei ser marginal mas não tem outra razãoNeste canal o sinal é real
me vou por que em breve minha vida será assim, uma estrofe sofrida.
um nó só
!
!
!

-pauloafonsosanchesdasilva











terça-feira, 12 de maio de 2015

Querido Diário,

ontem foi um dia bem estranho para mim, fiz algumas coisas que não costumo fazer e talvez não devesse ter feito. Bom, começando... Acordei cedo, mas não cedo o suficiente, tomei meu banho, me arrumei e saí correndo de casa. Cheguei tarde no trabalho, sorte que minha chefe não percebeu os quinze minutos. O dia foi complicado, tive que resolver vários pepinos que sequer eram meus!!! Mas tudo bem, eles pagam bem mesmo é para essas coisas.
            Na hora de ir embora, tomei um café e saí correndo para faculdade para ver a aula daquele professor babaca. O pior é que não posso nem tomar mais falta se não ele vai me reter. Mas tudo bem, fui pra faculdade. O circular estava lotado, mas nem reparei muito nas pessoas pois estava lendo meu livro. Consegui chegar a tempo de passar no bandeijão, procurei o pessoal na fila mas não achei ninguém. Tinha strogonoff de frango. Adoro!! Depois fui para aula, sentei no fundo com a Dani e ficamos conversando quase a aula toda. No final ela me chamou para ir na festa que teria na Arquitetura, não queria ir, mas ela estava tão afim que acabei aceitando para fazer companhia.

Chegamos lá e a música não estava muito boa na verdade, estava tocando uns raps que eu não gosto muito, mas depois começou o pop e o funk. Bom, mas logo no começo a gente já começou a beber, tinha dois caras lá vendendo uma cerveja artesanal que estava bem gostosa, e que subia bem rápido. Quando já estávamos em outro planeta, a Dani me cutucou e mostrou uma rodinha de cinco pessoas que estavam olhando pra gente e rindo, eram três meninas, uma delas maravilhosa e dois garotos, bem perfil da sociais sabe? Fingimos que não vimos e continuamos dançando, daí uma das meninas chegou e convidou a gente para ir para a roda em que ela estava, eu não queria, mas a Dani foi na frente e eu segui atrás, chegamos lá e ficamos conversando com todo mundo. Não sei muito bem como tudo aconteceu, mas acabamos indo todos para a casa de uma das meninas, que ficava bem ali perto.
            Chegando lá, continuamos bebendo bastante e em algum momento aquilo virou uma pegação geral. Só consegui ouvir alguém sugerindo que fossemos para o quarto com a luz apagada. No quarto ninguém sabia quem era quem e todos se beijaram, só sei que terminou todo mundo sem camisa e com marcas de chupões e mordidas...
            Difícil mesmo foi para vir para o trabalho hoje, sorte que consegui passar em casa e trocar de roupa, porque com a cara que estou e a roupa de ontem iam ficar falando de mim aqui até o fim do contrato.

            Sei lá, foi isso Diário... O pior é que acabei não pegando o telefone de ninguém da festa. Até amanhã!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Importante da Vida é Gozar.

Eu passei a vida tendo medo do que as outras pessoas iam pensar de mim. Quantas vezes preferi me esconder para não precisar me expor ao estresse de conhecer gente nova, chorei por estar sozinho? Quantas vezes errei, me afobei e assustei as pessoas ao meu redor, por não saber lidar com meus próprios medos? É difícil fazer as outras pessoas gostarem de você, quando você mesmo não consegue fazer isso. É impossível viver sem amor-próprio, porque é como se estivessemos presos a quem mais odiamos, se irritando com cada mania, cada palavra, frase e criando certezas estúpidas sobre nós mesmos. Além disso, esse tipo de coisa só se aprende sozinho, e problemas sociais e sentimentais só pioram a cada dia em que os ignoramos. Um adolescente amedrontado é normal, mas um adulto amedrontado está destinado a ter muitas dificuldades desnecessárias só por seu medo.

Eu aprendi a gostar de mim mesmo muito tarde. Com 22 anos, já havia perdido muitas oportunidades, festas, até mesmo amores por não saber confiar em mim mesmo. Com 22 anos, eu já queria definir que tipo de pessoa eu era de acordo com o que as outras pessoas diziam que gostavam em mim, mas quando eu me perguntei que tipo de pessoa eu queria ser? Fiz três anos de uma faculdade que eu escolhi com 18 anos por ser “algo bem perto do que eu queria na vida”, e mesmo quando percebi que aquilo não era para mim, insisti para não parecer um covarde na frente da minha família. Até mesmo nos meus namoros e no sexo que eu fazia, queria sempre parecer mais seguro e demonstrar um conhecimento do meu corpo que eu não tinha.

Foram necessários anos de terapia e até remédio para resolver esse problema. Além de um relacionamento abusivo às avessas, em que, diferente de tudo que já se viu, é o homem que sofre com uma companheira ausente, interesseira, que se aproveita e mente. Foi só depois de um ano inteiro de conflitos, que a  para mudar a própria vida surgir. Até eu decidir que a vida é uma festa, e se tivermos medo de dançar errado, nunca aproveitaremos a chance que temos de aprender. Não podemos nos acovardar de gostar de coisas que as pessoas ao nosso redor não gostam, nem de fazer aquilo que dizem que é loucura, que é errado ou até vexatório. Não é porque alguém tem vergonha de pular feito maluco na festa, que você tem que ter também.


Um conselho para sua vida: Se divirta. Nada é vergonhoso enquanto você está se divertindo. Agora, se alguém achar que o que você está fazendo é vergonhoso, é porque ela tem medo, ou acha que existe uma maneira certa de se divertir. Essas pessoas a gente ignora, porque são as que já estão seguindo um modelo engessado de vida sem nem mesmo perceber. Aproveite a vida sem medo, beije quem você acha bonito, transe com quem você tem desejo, goze e faça gozar. Dance e se deixe levar até de manhã, porque é só isso que importa. Você é x melhor amigx que você pode ter, então se ame, seja você quem for e não o que as pessoas querem que você seja.

E não se esqueça: Goze a vida, porque é isso que importa. Gozar.

By Vitor Murano (feito às pressas e sem revisão. Desculpem)

domingo, 10 de maio de 2015

De dentro pra fora

Depois de tanto tomar, é chegada a hora em que aprendemos a filtrar aquilo que devemos ou não beber. O que vale mais a pena? Ficar parado por medo ou arriscar e ter a chance de se surpreender? Quanto já não ouvi por querer diferente... Chega a ser ridículo o modo que nos acostumamos a ser julgados. É hora, é dia, é ano... Nada muda a não ser o nosso eu. As pessoas continuam falando, criticando, perguntando, se importando. O que é que há comigo, hein?! Se nós dois gostássemos do azul, o amarelo não teria a oportunidade de existir, muito menos de ser apreciado, e sobraria menos cor pra gente se colorir. Deixa estar! Deixa que dos caminhos doidos que eu traço mentalmente eu entendo, deixa que dos amores platônicos e daqueles aparentemente impossíveis eu cuido, deixa que eu seja aquilo que eu queira ser - ainda que não saiba exatamente, creio que um dia a gente esbarrará na nossa essência e daremos conta de que é ela. Igual ímã, sabe?! Aprendi a deixar os outros, e de tanto ir deixando eles com eles mesmos, de tanto deixar passar, sobrou eu. E agora eu não posso me preocupar em ser qualquer outra pessoa a não ser eu mesma, afinal, se eu me deixar passar, quem realizará meus sonhos e desejos? Quem beijará meus amores e andará pelas ruas de São Paulo com tanta paixão no peito? Sim, ninguém irá, porque um dia todos aprenderão a importância de deixar ir e, com isso, finalmente se encontrarão, aí não restará tempo para cuidar de ser o outro. Me arrisco diariamente e ainda que muitas vezes seja surpreendida de forma negativa, nada me pesa mais quanto o pensamento de não ter tentado.

Se eu tiver medo da vida, vou ter coragem do que? 


(Mariana Cortez)

sábado, 9 de maio de 2015

Bicho homem

Quando eu nasci minha mãe me abençoou
Com lindas asas para que eu fosse livre.
Durante um desses voos eu cai
Tão rápido, em uma queda tão violenta 
Que me sento feliz por estar viva,
Mas quando dei por mim haviam cortados minas asas.

O bicho homem quando me viu 
Não compreendeu minha natureza livre,
Me julgou e me condenou por ser diferente.
Naquele momento vi o poder da intolerância.
O bicho homem abominava tudo que 
Não se encaixava ao seus padrões.
O bicho homem era cruel.

Depois de muito penar
Eu me encaixei no padrão do bicho homem,
Já que sem asas não conseguiria fazer o caminho de volta.
Ao me encaixar nos estranhos e destorcidos
Padrões de beleza, amor, felicidade e vida
Do bicho homem, de tão vazia que me tornei
Comecei a definhar.
Acabei por me tornar um bicho homem.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Crescer e sobreviver

Hoje as minhas costas coçaram e ao colocar uma das mãos para trás senti um fiozinho em relevo. Era uma estria num lugar muito estranho, o qual nunca dei atenção. Mas voltar para a calça 42 tem um preço e voltei a me concentrar na louça que estava esperando água desde domingo. E divagando pensei que houve um tempo em que as estrias me preocupavam e ao ter que esfregar uma panela com parte de um omelete grudado, pensei que naquela época lavar toda a louça não era a minha obrigação e devia ser por isso - por não ter grandes preocupações - que as estrias me deixavam preocupada.
Mas não era só isso. Eu era aquela menina do colégio que era zoada porque tinha estrias. Oras, todo mundo tem estrias vocês irão me dizer, mas acreditem, os meninos pegavam pesado comigo.
O uniforme convencionalmente usado nos dias de calor era uma calça apertada que descia até o joelho e terminava na panturrilha. E lá na panturrilha era o lugar em que as minhas estrias moravam e elas estavam ali e eu convivia com elas.
Um dia eu cheguei pra aula depois do intervalo e sentei no meu lugar. Olhei pra frente e estava escrito na lousa, bem grande: ESTRIA.
E eu tive certeza que era comigo a provocação porque eu era constantemente zoada por causa disso.
Hoje enquanto eu acabava de exaguar a panela que eu estava lavando tentei lembrar o que aconteceu depois.
Eu fiquei puta, ofendida e me senti exposta, tão exposta mas tão exposta que eu nem reclamei para não me expôr mais. Não lembro se eu ignorei e fingi que não era comigo ou se apaguei o que estava escrito e esperei pra ver se o cuzão tinha coragem de escrever de novo. Pensando em como sou hoje estas duas saídas seriam plausíveis mas acho que não apelei para o óbvio que seria encaminhar isso para a direção do colégio porque nesta época o buylling era uma coisa muito naturalizada e sempre quando reclamávamos de alguma coisa, a orientação era para que a gente ignorasse, como muitas pessoas dizem, aliás, para fazermos quando algo nos incomoda, o que me faz pensar que a escola reproduz inúmeros aspectos da sociedade inclusive no que toca às opressões.
Depois deste episódio na 8ªsérie, eu passei a usar apenas calças largas de tactel que não mostrassem nenhuma estria e escondessem as minhas curvas, inclusive nos dias de calor, nesses eu dobrava a calça até o fim da panturrilha e ficava horrível. Fiquei nessa vida até o fim da escola. Me sentindo uma pessoa muito ruim e zoada. Eu não era ninguém, eu era só.
Muito tempo depois, tomei coragem e passei a usar os vários vestidos legais que eu havia ganhado de um amigo muito querido e ao perceber os olhares dos caras de 30 que frequentavam os mesmos lugares que eu, saquei que até que eu não era tão zoada assim e que o problema não estava nas estrias que apareciam depois da barra dos vestidos e sim nesses julgamentos escrotos que algumas pessoas fazem. Nessa história de querer falar do corpo da outra pessoa e faze-la se sentir mal por uma ou outra característica. Nessa história de cuidar mais do corpo do outro do que da própria vida. Os meninos pegavam pesado comigo porque a sociedade pega pesado todo o tempo, me arrisco a dizer, numa certa medida, com todo mundo. E o único jeito para lidar com isso é crescer e sobreviver, continuar caminhando, apesar das inúmeras condições adversas que aparecem no tabuleiro do jogo da vida

(Mayra Guanaes)

quarta-feira, 6 de maio de 2015

SEMENTE SÓ

Sou só mas sou pomar
sou a árvore original
dei frutos proibidos
e meu veneno ainda rende
mas só mata lagarta da europa

sinceros quesitos chegam à beira mar
ME RECUSO no porto deixar
entrar, que entrem bem pra lá
na minha tribo não vão dogmatizar

pois noutra vida fui fugitiva
vagava só no centro da cidade
longe mar;

fomos vencidos, tristeza solar
o dia era trabalhar, nos atrapalhar
a noite era descansar, nos amortecer
pois ninguém vê que isso não é vencer

QUEM FOI QUE TE PARIU
dia-a-dia do nascer,
crescer e sobreviver;
se não me lê não vai entender
o que não viu

pois quem nunca partiu
nenhuma onda sentiu
semente ao mar é o que sou
melhor então;

não sou ninguém,
sou só e o mar


(Paulo Afonso S. da Silva)

terça-feira, 5 de maio de 2015

Solidão

De todos os planos o que restou? Nós tentamos fazer nosso amor durar, tentamos fazer dar certo mais de uma vez, mas algumas coisas parecem não ser... A realidade é mais dura que o sonho, e nós fizemos tudo para sabotar o casal ideal que poderíamos ter sido, se fomos feitos um para o outro lutamos ao máximo para não ser para sempre.
Hoje em dia a pior parte é voltar para casa, quando percebo que não há nada para ser feito, nada para contar e ninguém para encontrar... Nunca fui de chorar mas nesses dias tenho me sentido rasgado. Chego em casa e a saída é sempre a mesma: abro a porta, busco o copo, pego três pedras de gelo e qualquer coisa que possa me amortecer. O sofá me abraça, a TV me guia... o chão me espera.



Nessuno

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Platonismo saudável.

Moça de belo rosto, quem é você? De onde você tira esse sorriso que clareia paisagens, esses olhos puros, que nos trazem à superfície da felicidade, e nos limpa de qualquer tristeza, energia negativa? De onde você tirou essa expressão suave, esse andar que mais parece um flutuar, essa leveza toda no seu ser?


Moça de rosas nas mãos, como será sua voz? Será possível que de lábios tão bonitos, rosados, de uma cor tão suave e natural, possa sair uma voz que não seja menos leve e melodiosa do que o resto de todo o seu ser?


Moça de feições leves e delicadas, sua beleza não é feita da opinião dos outros. Você é bela pelo simples. Sua beleza vem de seus olhos, grandes e profundos, de seus lábios finos. O seu rosto está marcado pelas risadas, lhe dando um sorriso natural. Um sorriso que me faz ter vontade de sorrir. Um sorriso que me deixa sempre feliz.


Você é mais do que uma moça com um belo rosto, mãos de tão róseas e delicadas, que as compararia com flores. Você vai além do que nós conhecemos por beleza, porque a sua beleza é única, e unicamente sua. Com você, não quero estereótipos, nem padrões. Eu só quero você, e nada mais.


Estar com você me traz felicidade. Sua companhia, o calor do seu corpo protegem qualquer um de ser machucado pelo mundo exterior. Moça da beleza única, sinto falta dos dias que eu passei com você, em meu amor platônico, e que me ajudou a enfrentar o dia mais escuros da minha vida.


Não existe algo como “mulher perfeita”, claro que essa expressão é machista e envolve apenas “perfeições” sexuais. Mas você, moça que me alegra todos os dias, é a mulher perfeita para mim. É quem hoje em dia me faz tanta falta, e que me dá vontade de ir atrás de você, mas eu tenho medo do meu amor platônico se torne realidade, por isso, fico observando só de longe, te admirando, te desejando o melhor na sua vida sempre.

Te amando.

By Vitor Murano

domingo, 3 de maio de 2015

Deu choque

Tocou na minha mão e segurou como se não pudesse deixar-me ir. E não podia! Olhou nos meus olhos e em silêncio prometeu um milhão de coisas das quais já nem me lembro mais. Encostou os lábios nos meus... Deu choque. Selou a noite com os nossos narizes colados e os corações entrelaçados. Quem viu sentiu, e até quem não reparou com certeza depois notou que a Lua brilhou mais forte. É charme, vontade, desejo, carinho, cor e melodia. Amor? Quem sabe...



(Mariana Cortez)

sábado, 2 de maio de 2015

Sobre o flerte ou algo do tipo

Sempre fui dessa que vê poesia em tudo,
Principalmente no amor.
Ao meu ver o que faz o amor brotar,
É o flerte!
Olhares que se cruzam e desviam,
Sorriso sem graça,
Músicas e frases sem nexo
Que começam a fazer sentido.

É o flerte o responsável pelo amor!
É ele que diz pra onde vão as coisas
E se vão de fato.

Mas o flerte não deve ser todo premeditado,
dever ser fruto do acaso.
Acaso este que cruzou nossos olhares,
Entrelaçou nossos dedos e nossos corpos.
Até quando?
Deixo essa resposta para o mesmo destino
Aquele que nos uniu.


(Victória Sales)

quinta-feira, 30 de abril de 2015

feito chocolate derretido.

E tinha aquele lance de sentir o corpo tremer também.
Eu tentei resistir mas passei a achar que tudo que você fazia tinha um quê de apelação.
O jeito de se aproximar de mim para um cumprimento.
E o seu perfume.
E o jeito como você me olhava.
Claro, essa parte só notei porque eu também te olhava.

E toda essa história de te perguntar sobre a lição de casa, fumar um cigarro depois da aula, dividir um doce ou sei lá o que, tudo desculpa para ficar perto de você.

Eu sei que você sempre soube.

Mas eu achava poético disfarçar.

Depois eu te lambi inteiro feito chocolate derretido.

Quente, macio, gostoso.

Depois pedi mais.

(Mayra Guanaes)

quarta-feira, 29 de abril de 2015

FRÁGIL



     Adoro me observar por dentro, o problema é quando fico preso.




A vontade que tenho é a de me esconder dentro de uma caixinha transparente
e guardar comigo todas as tristezas que me enfraquecem; 
todo amor que tinha nesse mundo 
foi lambido 
feito chocolate derretido 
por humanos,
libertemos
!





                                                  (Paulo Afonso S. Da Silva) [(foto: edson degaki)]

terça-feira, 28 de abril de 2015

Todo amor que houver nessa vida

Po, finalmente entendi o Caetano sabe? "Quero a sorte de um amor tranquilo, com saber de fruta mordida..."? Que me desculpem os vorazes e os das paixões avassaladores, mas o amor para mim é lento, ele não aparece do nada e te joga na cama, isso é gripe, o amor vai crescendo conforme o outro vai se infiltrando nas brechas das nossas vidas. Talvez por pensar assim tenha amado tão pouco até hoje, acho que se cansaram de mim antes mesmo de eu ter tido tempo de amar... Mas não ligo muito não, quem amei vai ser amado para sempre e se alguém me amou acho que tenho que pedir desculpas, mas tá tudo bem também...

Até tenho inveja das pessoas que se entregam perdidamente no primeiro mês, constroem planos no segundo, vivem a lua de mel no terceiro e sofrem ao longo dos quartos e quintos o desamor, acho tão bonito o estar envolvido que queria mais, só não consigo. Mas ao mesmo tempo eu não trocaria esse arroubo de sentimento pela constância das manhãs compartilhadas, do acordar com cheiro de café, da novela fazendo cafuné, do beijo com dentes desescovados e da dor de cabeça das contas, do suco espremido para ressaca. Nada me tira da cabeça que a real beleza do amor não está no inesperado ou nas loucuras que fazemos, a beleza está na poesia do dia a dia, na ternura da rotina...

Pera, que? Essa música não é do Caetano? Do Cazuza?!?! Porra, então não entendi nada!


Augusto Nessuno

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Uma Enorme Festa

Nenhum ser humano é auto-suficiente. Uso essa palavra porque cansei de ouvir gente dizendo que “não precisa de ninguém”. Gente que estufa o peito feito o analfabeto político de Brecht e grita com todo orgulho que “ninguém é insubstituível na sua vida”. Dá certa aflição ouvir isso, porque esses são os pobres cegos que não percebem que a melhor coisa do mundo é ter alguém único na sua vida, alguém em quem você pensa toda vez que quer comemorar um dia muito bom ou chorar uma tragédia. Toda vez que você despreza uma pessoa que te quer bem e que pensa em você com carinho, está também jogando fora uma oportunidade de ser feliz, mesmo que por um único momento.


No outro oposto, também há as pessoas que são dependentes de outras. São inquilinos sociais que não conseguem viver sem um hospedeiro de onde tiram todas as suas relações e até eventos sociais. Em pouco tempo é possível ver como isso pode ser toxico para qualquer um, já que qualquer tipo de dependência gera ansiedade, paranoia e uma submissão total, beirando a serventia. Quem vive em função dos outros se esquece de si mesmo, abrindo mão sempre da sua própria felicidade para fazer os outros felizes. É como se a vida valesse mais do que a dos outros.


Talvez seja porque essas pessoas não se valorizam o suficiente, e, por isso, não conseguem valorizar ninguém ao seu redor, ou valorizam demais. Eu mesmo durante muito tempo vinha pequeno, muito pequeno, quando conhecia alguém novo. Sempre achava que minha companhia incomodava e que outras pessoas faziam um favor de ser meus amigos. Chegava ao ponto de passar mal de ansiedade quando precisava ir para uma festa ou qualquer lugar em que eu precisaria conhecer gente nova. Até o dia em que eu de fato me conheci.


Até o dia em que eu comecei a praticar meu auto-conhecimento diário. Parei de olhar para os outros e comecei a olhar para mim mesmo.


Para muita gente, tentar se conhecer é como uma criança que tenta olhar para seu próprio nariz: está perto demais para ter uma visão clara do que de fato é, mas é como minha mãe sempre me disse “Você é a pessoa mais importante da sua vida, então se conheça e se ame”, nós não temos muita escolha. Nós somos nossa única companhia que está garantida até o fim da nossa vida, então bom que sejamos bons amigos de nós mesmos, que nos conheçamos como ninguém e nos amemos acima de tudo.


É difícil, mas precisa ser feito.


Isso porque se você não se amar acima de tudo, vai depender das outras pessoas te valorizarem. E é aí que, como uma amizade que não foi cultivada, nós vamos nos distanciar de nós mesmos até cairmos no nosso próprio esquecimento. Viraremos uma pessoa que grita que não precisa de ninguém na vida, ou buscaremos um hospedeiro social de onde tiraremos toda nossa felicidade. Sem falar que viraríamos presas fáceis daqueles que só se relacionam por interesses egoístas.


É um assunto confuso, nublado, sem resposta certa, de fato, mas pensemos bem: tudo o que precisamos saber é que dentro desse mundo completamente desequilibrado e cheio de fobias e inseguranças, precisamos encontrar no ponto de equilíbrio dentro de nós mesmos. As pessoas ao nosso redor vão nos ajudar a encontrar esse ponto e nós as ajudaremos a encontrar o delas, mas tudo isso deve ser um grande círculo, sem hierarquias. Um relacionamento saudável se baseia em trocas e não em dependências, mesmo que poucos percebam isso.


Pense bem, a vida de cada pessoa é como uma grande festa: é vazia e triste se ningúem for, é falsa se as pessoas forem obrigadas e sempre é chato quando alguém aparece sem ser convidado. As pessoas vão a festas para comemorar eventos que importam para elas, seja um conquista na vida, um aniversário ou um casamento, e na nossa vida devemos sempre comemorar o fato de ainda estarmos vivos. A vida acaba quando acabam os motivos para se celebrar.

Com quem você quer celebrar sua vida?

By Vitor Murano

domingo, 26 de abril de 2015

Celebrar

Vez em quando sinto imensa gratidão - sei que deveria ser constante, mas é que alguns problemas também fazem doer. Vim ao mundo, fui convidada e me receberam com doces e tudo o que tenho direito... Obrigada pela recepção. Cresci - até certo ponto - e fui tratada com cuidado e atenção, obrigada por tanta paciência. Me descobri mulher e todos festejaram com alegria, como se tivesse dado a melhor notícia do ano - em partes era -, agradeço pelas boas vindas ao novo mundo. Ainda não me tiraram para dançar, mas acredito que o evento está começando - obrigada aos amores que não deram certo por me ensinarem que nada é o fim do mundo e que há sempre algo por vir. Ando sem pressa, aguardo não-ansiosa pelo momento do parabéns, observo todos dançando ao meu redor e - vez ou outra - me pego sorrindo ao ver os casais constituindo a melodia. Resolvo levantar, dar uma volta... Novos convidados chegam - "Quem são? E... Porque aqueles ali estão indo embora?" - Não obtenho resposta. Tropeço em um dos degraus da pequena escada e ralo a meia calça. A festa já dura algum tempo... Não encontrei meus pais para ajudarem com o machucado. Me preparo para o jantar e os que eram desconhecidos se tornam meus amigos de mesa, daqueles que foram embora eu já não sinto mais falta. Minha roupa é bonita, mas acho que o sangue do machucado assusta quem pensa em se aproximar. Eu queria gritar que aquela música é a minha favorita, e ela é tão sensível que eu acredito representar o meu interior, mas ninguém se preocupa em ouvir. De pouco em pouco os convidados começam a se despedir de mim. À princípio não entendo nada, logo depois noto que aquela festa é a minha. Me despeço com um certo receio, parece que não nos encontraremos novamente tão cedo. Sim, é exatamente isso. As luzes vão se apagando, pessoas novas continuam aparecendo.. "O que está acontecendo?!" - A festa está acabando... "Mas... Faltou aquela música!!!" - Pessoas continuam indo embora e eu permaneço sentada. Sinto que o salão ainda me pertence, portanto não me desespero, ainda há tempo para celebrar - mesmo que sozinha. Mas... Eu aainda tô aqui, não me tiraram para dançar. Olha... Eu estou calma, mas prometa vir antes da festa acabar.



(Mariana Cortez)

sábado, 25 de abril de 2015

Aos meus filhos

Meus amores,

Por vocês me aventuro em versos e prosas, para lhes deixar algo que possa ser útil, sega na pratica ou como um alimento para vossas almas inquietas.

Inicio este escrito dizendo que não tenham medo e caso tenham medo sigam com medo, até que ele desapareça. Não que ter medo seja algo ruim, na verdade ele é muito útil para lembrarmos que somos humanos e temos nossas limitações, mas quando digo para não terem medo, o que quero dizer é para que não temão a luta, ela é dura mas muito necessária. Tenho consciência que até o nascimento de vocês ainda haverá pré-conceito dos quais não poderei protege-los e nem impedir que eles ocorram, mas poderei e irei lhes empoderar! Vocês terão orgulho da sua cor, do cabelo e do nariz, pois eles lhe tornarão quem vocês realmente são e ao se olharem no espelho irão ver tamanha beleza de teus traços.

Não estarei sempre ao lado de vocês, pois além de meus filhos vocês serão do mundo. Não se espantem com isso, pois está em nosso DNA! Possuímos o gene da inquietação e da peregrinação, somos tartarugas, levamos nossa casa nas costas. Nossa casa é o mundo!

Sei que muitas vezes não vou entender o que se passa com vocês e você muitas vezes não vão compreender minha preocupação, as vezes vocês vão querer abraçar o mundo com as pernas (principalmente aos 19 ou 20 anos) enquanto eu só irei querer abraça-los, mas outras vezes vocês vão se preocupar com essa minha eterna mania de abraçar o mundo com o coração. Concluo que não serei a melhor mãe do mundo, mas serei a melhor que puder para dar o mundo pra vocês.

Não vou pedir para que vocês tomem para si as minhas lutas e militâncias, mas não as ignorem, a opressão do outro um dia pode ser a sua de alguma forma, mas mesmo que não seja, não ignore. Por mais que existam pessoas escrotas não deixem a fé no outro se esvair pelos dedos, doe-se, pois mesmo que o outro não retribua o universo irá. Ele lhe dará asas para voar e fazer da tua casa o universo.

Por mais que eu chore com a distância não parem, pois lhes ver voando me faz voar também. E saibam, mesmo longe estarei como vocês!

Beijos
Mãe (ou mães)



(Victória Sales)

quinta-feira, 23 de abril de 2015

devagar e divagando - o que eu diria se eu tivesse filhxs

É assim que as coisas são. É assim que a gente resolve tudo: devagar e divagando.

Tinha um amigo que dizia: olha, não é um conselho. É só uma sugestão, menos afobação, pensa bem nas coisas que você vai fazer.

É isso: pensa bem. Pensa sempre porque a vida é dura e a queda é dolorida.

E você cairá muitas vezes, sabe. Repetidas vezes. Em algumas de suas quedas você conseguirá se erguer rapidamente, outras nem tanto. Mas fica tranquila. Depois de um tempo cair dói menos. Depois de um tempo seu corpo já estará tão coberto de cicatrizes que mais um corte ou outro não vai fará tanta diferença assim.

Aproveite as coisas boas da vida. E os detalhes. São os detalhes que fazem diferença no cotidiano.

Respeite as diferenças. E tente se colocar no lugar das pessoas que pensam diferente de você. Esteja de ouvidos abertos e novamente: pense no que você quer dizer. Construa seus argumentos antes de se colocar.

Não tenha medo de ser diferente da maioria. Aceite as suas diferenças, lide com elas. E não tente se diferenciar, lembre-se: ao querer parecer diferente, pode ser que você esteja tornando-se igual. Contraditórios os desejos da nossa sociedade, não?

Foque nas coisas que você tem de bom. Nos seus talentos e nas suas habilidades, são estas características que tem empurrarão para frente. E se esforce para melhorar e se superar sempre.

Seja curiosx. Não fique satisfeitx com as superfícies, busque o aprofundamento das coisas que você gosta.

Procure sempre aprender e compartilhe o que você já tiver aprendido.

E desconfie. Desconfie inclusive disso tudo que eu sugeri agora. Questione e defenda sua opinião com garra, calma e pontualidade.

Pense, reflita, divague.

Preserve a sua sensibilidade. Vivemos na sociedade do choque, do imediato, da superficialidade.
Presta atenção que é importante: A vida tentará te endurecer. Não deixe que isso aconteça.

E leva um casaco que tá esfriando. Não quero que você fique doente.

(Mayra Guanaes)

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Fui a Cu bá,

bá...

Cresci;
sou
bicha,
drogado,
preto,
índio,
cigano
(branco)
um tanto caliente
abortei ideias cristãs
sigo com fé nos batuques
as vezes me oriento
não estudo economia
nem crio galinhas
mas durante o dia procuro grama
de noite só asfalto
melancolia urbana
sou do litoral
vou mudar de capital
de chão em chão
devagar e divagando
me descubro vagabundo
e nesse vai e vem
vaguei, vazei, fui...


(Paulo Afonso S. da Silva)

terça-feira, 21 de abril de 2015

O que ele vai ser quando crescer?

   Nossa, quanta gente estranha. O que minha mãe tá conversando ali, quero ouvir, por que será que ela me deixou tão longe dela? E se...
   - Nheud... Bleuhdas, nheeééeee...
   - Ô bebê da mamãe, que aconteceu? Vem cá vem, fica aqui no colo.
   Opa, agora sim, tô no meio da conversa.
   - Mas gente, eu não posso deixar meu filho sofrer essas pressões bestas da sociedade! E se antes de fazer a faculdade ele quiser trabalhar, ou viajar? Pra quê fazer ele escolher algo tão definitivo sob todos esses holofotes exagerados? E se o Alex decidir viver, ao invés de sobreviver como temos feito? Ele tem que estar livre pra suas escolhas.
   - Ai eu te entendo, mas qual a chance disso acontecer na nossa sociedade? Se ele terminar o colégio e não estiver decidido sobre que curso fazer na faculdade já vão taxá-lo de vagabundo, que vive as custas da mãe.
   Ei, não gostei do que você falou moça. Eu não vou ser vaga... vaga o que mesmo? Ah, mesmo assim, não vou ser isso ai não.
   - Ai, Alê, tá parecendo que você virou um deles isso sim! E olha que nem chegou aos 25 anos hein! - Olha, a moça chama Alê, que nome bonito, parece o meu...
   - Um deles! hahaha. Parece até que a gente vive num lugar com duas facções, os jovens e os adultos, onde pensar no futuro é coisa de velho. É importante definir o que você vai ser, se não você fica largado no mundo e sei lá, vira um desses esquerdistas ai.
   - Opa, eu ficaria é feliz da vida se o Alex virasse um esquerdista que luta por uma sociedade diferente! Né, bebê, já pensou, você em uma manifestação por direitos iguais? Ô que bonito! - que sorriso gostoso mãe! parece que você gosta mesmo dessa ideia deu ser um esquerdadista, é assim que fala?
   - Ai amiga, desse jeito ele nunca vai ser alguém na vida. Você precisa ter pulso firme com ele desde agora, pra ele ir crescendo e já decidir o que quer ser, no que quer trabalhar, assim ele chega nos 20 anos com um futuro pela frente, não fica igual esses marginais, esses socialistas que parece que não trabalham pra fazer manifestação no meio da tarde... O que ele vai ser quando crescer?
   Mas moça, se eu tô vivo, eu já não sou alguém na vida?? Esses adultos tem cada ideia... Olha que negócio engraçado que fica em cima do berço, será que eu alcanço....

(Clara Di Lernia)

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Até onde vamos?

Quando chegamos à idade adulta - 18 anos, geralmente - parece que atravessamos uma porta. Até então somos meros adolescentes que não sabem muito o que vai acontecer depois depois do notório ensino médio. Mas de repente, junto com sua nova permissão para dirigir, beber e até de fazer merda sem que seus pais levem a culpa, vem uma bomba relógio que é amarrada junto ao seu pescoço. Uma bomba relógio que vai explodir em aproximadamente 10 anos, mas que eventualmente, dará pequenos estalos para você se lembrar que ela está lá. Esses estalos são provocados por certas perguntas-chaves que todo jovem adulto ouve de vez em quando. Elas começam bem inocentes com “E aí, quando vai arrumar o primeiro emprego?”, “E o Vestibular?”, “Já vai começar a faculdade?” e vão piorando quando o tempo passa:

“Quando você vai se formar?”, “Quando vai sair da casa dos seus pais?”, “Esse namoro não vai virar casamento?” “Já pegou todas nas festas da faculdade?”

Todas elas podem se traduzir em uma única coisa: A sociedade nos dizendo “Quando você vai se tornar um de nós?”

Calma.

Porque exigem de um menino de 18 anos, ou um jovem de 24 para ter uma vida construída quando ambos mal saíram da adolescência?

Calma.

A vida não é assim. Vamos por partes. Um passo de cada vez, porque todos eventualmente precisam se entender, se achar. Muitos se esquecem que a vida não é baseada somente no emprego. Que o mais importante é seu caráter, e não sua carreira. Os padrões da sociedade estão tão enraizados que as pessoas esquecem que nem todos querem ser como eles.

Nem toda mulher quer casar, ter filhos.

Nem todo homem quer “pegar todas”.

Calma. Nem todo mundo é assim.

By Vitor Murano.

domingo, 19 de abril de 2015

Calma

Quando me ligou às duas da manhã disse que iria me esperar. Me contou que é questão de tempo, que precisa da minha certeza, que tenho de amadurecer. Enquanto isso as coisas iam acontecendo aqui dentro, o coração desejando berrar que não era preciso tempo, que por meus dedos ele já dizia que era só questão de querer, mas eu o calei. É estranho pensar - e não só isso, também é estranho me dar conta - que tudo o que tem vindo vem leve, que a minha consciência me atravessa depressa com pensamentos que dizem que já está tudo certo, e eu só preciso ter calma. Mais estranho ainda é me deparar com o conformismo que toma a comissão de frente e cessa qualquer incerteza antes mesmo dela aparecer. É como se eu já soubesse, se eu já sentisse... É como se nós dois pertencêssemos à uma realidade que não é essa, como se tudo o que acontece hoje fosse apenas um passatempo, nos preparando, assim, para o que há de vir. Quando te imagino, não te imagino aqui... Se fecho os meus olhos, nos vejo vivendo num outro clima; A minha rotina não muda, tampouco a sua, mas o que nos tornamos se estamos juntos nos faz diferentes e transforma toda a órbita ao nosso redor. Se fecho os meus olhos, não tenho medo nem me sinto insegura... Eu ouço tudo o que quem mora aqui dentro me diz e, com isso, tomo uma ou duas doses de coragem para prosseguir. Calma... É tudo uma questão de calma. O agora existe para que nós dois possamos existir depois.


(Mariana Cortez)

sábado, 18 de abril de 2015

Foi desejo.

Foi desejo sim, nem sempre precisa ser amor!
Foi paixão também, porque negar o coração?
Mas praquele moço, antes do coração, vem a razão.
Ele falou alto e claro "nessa vida, não quero sentir dor!"

Aquela dor que não é física, 
   mas dói como uma gastrite nervosa.
Aquela dor que não te larga,
   e te mostra que não está morta.

Mas o desejo - aquela vontade - 
ela tem vida 
e não precisa ser esquecida.
Então sim, foi desejo.
Desejo de ter o corpo do outro, na mesma medida que o outro te tem.
Desejo de dizer sim e de ouvir o não, de dizer não e ouvir o sim.
Desejo de se envolver, e mesmo assim, a alma não doer.

Alguns vão dizer que isso
   de se entregar pro outro
só pode acontecer
   quando se ama.

Eu te digo, meu amigo,
que isso só pode acontecer,
quando as partes se querem.
Quando se tem...
DE  SE  JO. 

Vai dizer que você também não o tem?

(Clara Di Lernia)

sexta-feira, 17 de abril de 2015

MEU sexo

Ao sentar aqui revi meus privilégios.
Pois sim, eu tenho privilégios senhores!
Embora toda a opressão sofrida diariamente,
Eu tenho o privilégio de ter escolhido ir pra cama com alguém.
Eu quis, sabia exatamente o que estava fazendo.

Eu tinha 19 anos,
Ao contrario das minha amigas de escola
Que tinham 14 anos ou até mesmo.
Eu não engravidei de primeira,
Eu na me arrependi,
Eu não tenho vergonha de compartilhar isso com os outros,
Eu não me culpei,
Não foi cedo demais ou tarde demais,
Foi minha escolha, foi desejo.
Eis ai meu privilégio
Em meio a tantas opressões,
Mas ainda assim um privilégio quando comparado
A realidade das minha iguais.

Esse privilégio chamado:
DIREITO AO CORPO
Deveria ser um
D I R E I T O DE FATO.

Eu digo quando farei do meu prazer,
Nosso prazer.
Mas nesse momento meu gozo é dela,
Meu prazer é com ela,
Meu corpo quer o corpo dela
Não por obrigação,
Mas por escolha, por puro querer!


(Victória Sales)

quinta-feira, 16 de abril de 2015

ele entrou, saiu, me calei

Me perguntavam qual foi a minha primeira experiência sexual e só depois de muito tempo de terapia consegui dizer realmente. Antes eu contava uma história inventada, uma história bonita. Eu contava sobre um moço bom que eu havia namorado e amado muito. Um moço tipo aqueles príncipes que aparecem em contos de fadas e histórias de prostitutas, um moço que havia aparecido para me tirar daquela vida.

E eu dizia: foi bom, foi bonito. Se eu gostei? Sim, gostei. Mas era mentira, essa história nem existia de verdade, e era justamente a verdade, com que eu não queria lidar. A história verdadeira era triste e era dela que eu sempre fugia nas conversas com as amigas no barzinho. Eu achava melhor contar qualquer outra coisa.

Por muito tempo eu achei que eu estava errada e ele certo. Que era assim mesmo, que os homens são assim, que a vida é bela e que eu devo relaxar. Não. Não devemos relaxar. A cada vez que relaxamos parece que morremos um pouco mais. A corda tá no pescoço e quando não prestamos atenção ela enforca.

Então um dia me meti numa dessas conversas em que a palavra empoderamento aparece muito e contei a minha história para as meninas ali presentes, acredite, havia meninos também que se sentiram tocados quando contei que a minha primeira experiência sexual não foi nem um pouco agradável, que eu tinha 11 e ele nem sei, 40?

Foi em algum dia de verão, eu passava férias na casa dos meus avós e nesse dia todos dormiam depois do almoço. Eu estava na sala deitada assistindo tv, meio sonolenta depois do almoço. Um tio distante vinha visitar meus avós, por algum motivo que eu desconhecia, não havia chegado até a hora do almoço, meus avós já não contavam mais com essa visita.

Adormeci na sala. Acordei com alguém passando a mão sobre as minhas pernas e quando abri os olhos, um homem que eu não conhecia tapou a minha boca  e fez sinal de silêncio. Tentei gritar e me levantar do sofá mas ele mantinha meu corpo preso ao com as mãos. Ele era bem maior do que eu. E então ele abriu o zíper e começou a roçar seu membro em mim. Eu sentia vontade de vomitar e na medida em que eu tentava me soltar, ele fazia isso com mais força. Até que senti um liquido quente escorrendo em minhas coxas.

Ele foi embora com a mesma sutileza com que entrou.

Mais tarde tive que dividir a mesa do jantar com este senhor. Era o tio que os meus avós esperavam.

Eu contei para a minha vó o que havia acontecido, ela não acreditou, disse que eu estava mentindo. Os meus pais foram mais razoáveis, ouviram a minha história e me mandaram para um psicólogo. Este tio nunca mais foi mencionado, nem esta história. Por todas as coisas que eu ouvia, eu me sentia culpada. Por isso eu nunca contava a ninguém. Eu tinha medo de me culparem por algo que eu achava tão triste e doloroso.

Depois de muito tempo percebi que eu não tinha culpa de nada.

E na primeira vez que contei essa história, pensei que talvez fosse uma história comum, parecida com as histórias de outras meninas e mulheres. E então eu me senti menos sozinha.

(Mayra Guanaes)

quarta-feira, 15 de abril de 2015

D'ELE


ele entrou
saiu
me calei


Me senti enforcado
por palavras-chaves
fiz gargarejo com meus desejos
porque fui te olhar?

quero ficar em outra posição
dentro de mim

tô todo bagunçado hoje
t o d o s o l t o

não apague a luz tão cedo
queria tanto ver teu rosto
mais uma vez

parece até que tô gostando
de cafuné
vem fazer em mim

ôh! doce ele;
volta aqui
eu sei que é ele
e eu homem e ele
Ele, eleleleleleleleelelelelele
quantos "ele" hão de aparecer?

se ele vier me sorrir de novo
prometo que serei todo
dele




(Paulo Afonso S. da Silva)

































terça-feira, 14 de abril de 2015

Desejo Espectral


O seu calar é o que
mais me encanta
somos iguais, somos o mesmo
e no nosso jogo sou só o início
tive minhas certezas roubadas
fui inserido em algo que
não tenho como entender
e no meu jogo 
na junção do a e b
seu silêncio me suspende
sua fala me corta


minha verborragia inconsequente
busca seu calar
Anseio aproximação
meu calar procura
seu reconhecimento
Anseio igualdade para então
em seus olhos me ver visto
E em devaneios por você
jamais te quero ter
Mas sorriria ao sentir.



Augusto Nessuno

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Existindo

Ele era um homem sozinho, não por medo, mas por opção. Sentia-se melhor se não devesse nada para ninguém e nunca conhecera de fato as pessoas. Mesmo no trabalho pouco se relacionava simplesmente por achar que aquilo só o distrairia e preferia fazer só o dele, sem dar satisfações ou ajuda. Gostava da solidão que sentia mesmo quando andava na multidão, porque era um lugar do qual ninguém podia tirá-lo.


Vivia em uma casa pequena, com móveis pequenos e poucos luxos. Mesmo seu carro não chamava atenção. Era um homem que só existia para ele mesmo, ninguém mais reparava nele. Todos os dias ele via as pessoas que passavam, todos os dias passava por pessoas tão solitárias como ele, e ficava feliz por conseguir ver aquilo com tal distanciamento. Era um talento, um privilégio por assistir as crises diárias das pessoas ao seu redor sem elas nunca atingi-lo. Esse era um dos motivos pelos quais amava ser sozinho.


Era um homem que vivia como um fantasma.


Dessa forma que ele conseguia ser insensível. Observava de longe e aproveitava como se fosse um filme, como se não fosse real. Com o tempo aprendeu a se esconder até mesmo dos familiares que tentavam se aproximar. Mesmo seus pais, já velhos e sozinhos, não existiam mais para ele. Fazia mais de dez anos que vivia assim e não sentia falta de nada da sua vida antiga.

Vivia como um fantasma, mas esquecia-se de que não era. Era na verdade, um homem que se enganava. Sozinho, não vivia. Apenas existia. Sozinho, não fazia nada além de continuar a ser sozinho no conforto, na segurança de sua solidão.

By Vitor Murano

domingo, 12 de abril de 2015

Diaeano

É tão engraçado viver o cotidiano, porque é como se eu me sentisse mais segura no momento em que fecho os olhos e te imagino aqui. Ainda que essa ação faça parte do meu cotidiano, me funciona como uma espécie de fuga de tudo o que me cerca. Tudo! Por isso eu sinto que vivo um cotidiano paralelo no qual você é presente. Não importa o que eu faça, não importa em quem eu pense, de quem eu goste ou como eu aja.. Você permanece. Dia e ano no meu cotidiano. Para ser sincera, não sei bem como lidar com todo esse transtorno, porque ele não transtorna, ele acalma. Você acalma. É engraçado querer tanto, criar tanto, sentir tanto e não ter quase nada. É engraçado porque você me tira de mim e me encaixa em qualquer lugar que há dentro de si. A realidade se torna mais gostosa com você em mente, mas, cá entre nós, também seria bom ter você presente. Eu não sei o que nos aguarda, mas eu sei que há algo que desejo: que você esteja aqui. Do lado, pra dentro, comigo nas ações e, também, no pensamento. Eu desejo que o cotidiano continue mais leve se eu paro para lembrar do teu riso, mas assumo que anseio que você ria comigo.


(Mariana Cortez)