terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Pateticamente sem ação

Em uma de nossas primeiras conversas você fez joça de mim ao dizer que tento complicar coisas simples com palavras difíceis, não entendi na hora o porque aquilo me incomodou tanto, fiquei remoendo isso durante todo esse tempo e acho que cheguei a uma conclusão. Me doeu porque você fez pouco caso do único diferencial que possuo. Se você é linda, com seus cabelos amarelo girassol, seu vestido rosa, seu sorriso e sua desenvoltura social eu tenho meus óculos, meus livros, algum domínio lexical e parca noção de como impressionar alguém como você.

Ainda assim de alguma forma lhe despertei o interesse e com isso nos aproximamos, contudo ainda me vejo te perdendo a cada segundo, não creio ser capaz de mantê-la próxima, afinal não há nada que comungamos além de nossa ânsia em estarmos juntos, mas quanto mais isso durará posto que é chama? Vejo hoje que antevi desalentadamente nas histórias o amor que sinto por você, te busquei em Julietas, Elizabeths, O Haras, Guineveres, Arwens… E quando finalmente me vi ao seu lado me sinto inapto em entregar-lhe tudo que, por direito, é seu. Sou no fundo, e antes de mais nada, um bruto revestido da película que apenas a erudição é capaz de fantasiar.

Sendo assim rogo-lhe para que busque com toda a força que há em você uma maneira de alterar essa minha ignóbil maneira de ser, para que possa no poente do sol de cada um de nossos dias lhe fazer feliz e sentir orgulho da pessoa que me tornei graças a você.



<Augusto Nessuno>
Lá está ela, altiva e bela, fingindo que nada a atinge. Ela sabe que a observam, admiram, elogiam. Balança para um lado, balança para o outro. Cheia de charme, elegância e petulância, ela deixa que o sol a ilumine, como se este fosse um holofote, e o mundo, um palco. Com seu vestido rosa, cabelos loiros e perfume inebriante, seduz a tudo e a todos, sem a menor pressa. No meio desta paisagem selvagem e desordenada, ela se destaca justamente por misturar o padrão que a cerca com os atributos mais almejados por qualquer ser vivente. Um destaque que esconde as imperfeições das folhas, os galhos quebrados, as outras flores mortas. Ela, sozinha, faz com que um suspiro seja estritamente obrigatório para qualquer um que venha a ter o privilégio de olhar, cheirar, tocar. Uma flor que poderia ser gente. A gente que me arranca suspiros. Que me permite amar, sofrer e ver que o mundo, é pra lá de injusto. Gente que, como toda bela flor, tem seus espinhos, suas armadilhas, suas falhas disfarçadas por trás de tanta perfeição. Gente que eu quero ver pra sempre, nos holofotes da vida, no palco das emoções, na apresentação ao mundo. Gente que vai se destacar, loira e com um vestido cor de rosa, mesmo que só eu venha a aplaudir quando as cortinas se fecharem. Mesmo que eu leve flores pra essa flor, pra privilegiar exatamente o que ela é: a mais bela do meu jardim.

(Gabriel Cruz Freitas)