Nenhum ser humano é auto-suficiente. Uso essa palavra porque cansei de ouvir gente dizendo que “não precisa de ninguém”. Gente que estufa o peito feito o analfabeto político de Brecht e grita com todo orgulho que “ninguém é insubstituível na sua vida”. Dá certa aflição ouvir isso, porque esses são os pobres cegos que não percebem que a melhor coisa do mundo é ter alguém único na sua vida, alguém em quem você pensa toda vez que quer comemorar um dia muito bom ou chorar uma tragédia. Toda vez que você despreza uma pessoa que te quer bem e que pensa em você com carinho, está também jogando fora uma oportunidade de ser feliz, mesmo que por um único momento.
No outro oposto, também há as pessoas que são dependentes de outras. São inquilinos sociais que não conseguem viver sem um hospedeiro de onde tiram todas as suas relações e até eventos sociais. Em pouco tempo é possível ver como isso pode ser toxico para qualquer um, já que qualquer tipo de dependência gera ansiedade, paranoia e uma submissão total, beirando a serventia. Quem vive em função dos outros se esquece de si mesmo, abrindo mão sempre da sua própria felicidade para fazer os outros felizes. É como se a vida valesse mais do que a dos outros.
Talvez seja porque essas pessoas não se valorizam o suficiente, e, por isso, não conseguem valorizar ninguém ao seu redor, ou valorizam demais. Eu mesmo durante muito tempo vinha pequeno, muito pequeno, quando conhecia alguém novo. Sempre achava que minha companhia incomodava e que outras pessoas faziam um favor de ser meus amigos. Chegava ao ponto de passar mal de ansiedade quando precisava ir para uma festa ou qualquer lugar em que eu precisaria conhecer gente nova. Até o dia em que eu de fato me conheci.
Até o dia em que eu comecei a praticar meu auto-conhecimento diário. Parei de olhar para os outros e comecei a olhar para mim mesmo.
Para muita gente, tentar se conhecer é como uma criança que tenta olhar para seu próprio nariz: está perto demais para ter uma visão clara do que de fato é, mas é como minha mãe sempre me disse “Você é a pessoa mais importante da sua vida, então se conheça e se ame”, nós não temos muita escolha. Nós somos nossa única companhia que está garantida até o fim da nossa vida, então bom que sejamos bons amigos de nós mesmos, que nos conheçamos como ninguém e nos amemos acima de tudo.
É difícil, mas precisa ser feito.
Isso porque se você não se amar acima de tudo, vai depender das outras pessoas te valorizarem. E é aí que, como uma amizade que não foi cultivada, nós vamos nos distanciar de nós mesmos até cairmos no nosso próprio esquecimento. Viraremos uma pessoa que grita que não precisa de ninguém na vida, ou buscaremos um hospedeiro social de onde tiraremos toda nossa felicidade. Sem falar que viraríamos presas fáceis daqueles que só se relacionam por interesses egoístas.
É um assunto confuso, nublado, sem resposta certa, de fato, mas pensemos bem: tudo o que precisamos saber é que dentro desse mundo completamente desequilibrado e cheio de fobias e inseguranças, precisamos encontrar no ponto de equilíbrio dentro de nós mesmos. As pessoas ao nosso redor vão nos ajudar a encontrar esse ponto e nós as ajudaremos a encontrar o delas, mas tudo isso deve ser um grande círculo, sem hierarquias. Um relacionamento saudável se baseia em trocas e não em dependências, mesmo que poucos percebam isso.
Pense bem, a vida de cada pessoa é como uma grande festa: é vazia e triste se ningúem for, é falsa se as pessoas forem obrigadas e sempre é chato quando alguém aparece sem ser convidado. As pessoas vão a festas para comemorar eventos que importam para elas, seja um conquista na vida, um aniversário ou um casamento, e na nossa vida devemos sempre comemorar o fato de ainda estarmos vivos. A vida acaba quando acabam os motivos para se celebrar.
Com quem você quer celebrar sua vida?
By Vitor Murano