domingo, 19 de abril de 2015

Calma

Quando me ligou às duas da manhã disse que iria me esperar. Me contou que é questão de tempo, que precisa da minha certeza, que tenho de amadurecer. Enquanto isso as coisas iam acontecendo aqui dentro, o coração desejando berrar que não era preciso tempo, que por meus dedos ele já dizia que era só questão de querer, mas eu o calei. É estranho pensar - e não só isso, também é estranho me dar conta - que tudo o que tem vindo vem leve, que a minha consciência me atravessa depressa com pensamentos que dizem que já está tudo certo, e eu só preciso ter calma. Mais estranho ainda é me deparar com o conformismo que toma a comissão de frente e cessa qualquer incerteza antes mesmo dela aparecer. É como se eu já soubesse, se eu já sentisse... É como se nós dois pertencêssemos à uma realidade que não é essa, como se tudo o que acontece hoje fosse apenas um passatempo, nos preparando, assim, para o que há de vir. Quando te imagino, não te imagino aqui... Se fecho os meus olhos, nos vejo vivendo num outro clima; A minha rotina não muda, tampouco a sua, mas o que nos tornamos se estamos juntos nos faz diferentes e transforma toda a órbita ao nosso redor. Se fecho os meus olhos, não tenho medo nem me sinto insegura... Eu ouço tudo o que quem mora aqui dentro me diz e, com isso, tomo uma ou duas doses de coragem para prosseguir. Calma... É tudo uma questão de calma. O agora existe para que nós dois possamos existir depois.


(Mariana Cortez)