sábado, 4 de abril de 2015

Almas-criança

Um moleque executado no morro, só mais um.
O Outro não vai ter a chance de ser reinserido na sociedade, só porque agora já fez 16 anos, e já que pode votar, pode encarar uma prisão. Só outra criança.
Teve um pivete que foi expulso de um centro comercial só porque pediu para comer sem pagar. Ele pediu. Apenas outra criança.
E já tivemos mais um executado na periferia enquanto você lia isso, e mais um.
De novo. Apenas outra criança.


Aos olhos daquela criança o mundo era belo, um campo de batalha, e a cada dia que ficava vivo, o menino sorria mais.
Mas agora, aquele brilho no olhar e o jeitão de criança não passam de uma lembrança pois, agora, outra criança foi executada, não com um tiro dessa vez, mas arrancaram-lhe a alma, impedindo que brincasse e fosse apenas uma criança.

Será essa a realidade que queremos?
Um mundo sem almas-criança.


(Clara Di Lernia)