O entardecer estava frio e uma lona estava armada em baixo do viaduto
Tinham luzes e maquinários que mais pareciam de um cenário hollywoodiano
Era o centro velho vivendo o máximo do despudor, o avesso das leis.
Mais de cinquenta homens jogados nos bueiros empoeirados, em corpos nus
rastejados pelo caos, uma organização complexa do Ser.
Da submissão carnal, admiração egóica do nervo e do osso.
Apenas um teve coragem de se levantar, queria ser apedrejado, jogaram-lhe as fezes dos ratos que subiam pelas paredes, o fizeram lamber até o teto, tudo por ter ficado ereto. A primeira sessão de gozo começou, silêncio!
...está escutando?
Além dos gemidos provocantes o cheiro que exalava só atraia mais gente, por cima desciam as mulheres que dominavam as ruas, do céu refletia uma luz - era a nova constelação chamando!
Uma sombra com formato fálico se aproximava dos homens rastejantes, era a Gilka, com sua cinta brilhante, trocou as luvas por um dildo. naquele momento ela deu de cara com aquele homem qualquer que resolveu ficar ereto, eles se olharam e se aproximaram.
...três passos!
uma mordida no lábio
Gilka aperta a nuca suada do rapaz
e ele se entrelaça em Gilka
deixando-a com um mau cheiro...
O rapaz começa enforca-la; e ao mesmo tempo todos param de respirar junto com Gilka.
Seu olho parece aumentar, de sua pupila sai um pássaro;
"tem o bico volteado que nem gavião"
Gilka reage inesperadamente, enfiando no rapaz seu dildo brilhante enquanto de seu sapato nasce um salto, ela cresce, suas asas acontecem, se tornando um gavião entre os mortos, O único membro que lhe sobra é um braço, e com este ela acerta um soco no meio da costela daquele homem, que não mais ereto cai sobre os outros corpos. Gilka libera passagem aos urubus e
...sai voando, cantando!
(Paulo Afonso S. da Silva)