Depois de uma derrota é pior.
A impressão que eu tenho é que o tempo nos faz bem. Fecha e cicatriza algumas feridas e depois de um tempo estas feridas tornam-se menos importantes porque outras feridas hão de se abrir e novos curativos tornam-se necessários.
Eu já precisei de muitos curativos. Mas depois de cair tanto, meu corpo já está tão cheio de cortes e escoriações que parecem não doer tanto debaixo de um banho quente.
Eu nunca fui derrotada com a cabeça tão erguida. Devia ser o cansaço, o excesso do café, talvez.
Eu já participei de muitas assembleias. Eu voltei para casa contente depois de algumas delas. Já voltei triste depois de algumas outras também. Talvez fosse para voltar para casa triste depois da assembleia desta terça mas até que eu não estava tão triste assim.
Estávamos em 700 mais ou menos. E há algum tempo que isso não acontecia mas eu fiz parte da minoria, do lado que perdeu. É duro.
Mas a política não é o fla flu.
E eu não ligo de perder quando o jogo é limpo e eu achei que a última assembleia em que eu compareci, foi limpa. Democrática como todo assembleia deveria ser. Eu vi olhares éticos, eu troquei olhares de cumplicidade com pessoas com quem eu jamais poderia pensar que isso pudesse acontecer.
É difícil explicar de onde as afinidades surgem porque elas aparecem dos lugares mais subjetivos. Eu me arriscaria a dizer que elas surgem do prosaico, como o início de um conversa que parece que não vai dar em nada como quando perguntas que horas são ou pedimos um isqueiro emprestado.
A postura, a presença, o olhar, aproximam. Um assunto, uma pauta também.
Eu acho muito bonito quando apesar das divergências ainda é possível dialogar.
As coisas poderiam ser diferentes mas acredite...tudo já foi muito pior.
(Mayra Guanaes)