segunda-feira, 15 de junho de 2015

A Saudade

Todos os dias ele visitava seus amigos. Mais para o fim-da-tarde, depois que havia completado as tarefas chatas e entediantes do dia, não havia nada melhor para ele do que se sentar e relembrar com suas pessoas preferidas no mundo inteiro como a vida costumava ser divertida quando eles todos se sentavam na mesa do bar depois das aulas e ficavam até de madrugada. Agora tudo era diferente, os encontros terminavam cedo, no máximo às 22h, quando seu celular tocava, indicando que estava na hora de voltar para se arrumar e dormir, para no dia seguinte tudo começar novamente.


Ele sorria quando olhava para sua mulher, sempre ao lado de seu cunhado, que também era seu melhor amigo, padrinho do casamento e do primeiro filho. Era engraçado de como tudo se encaminhou para todos conseguirem ficar juntos durante tanto tempo, mesmo depois de tudo o que acontecera. Aquela visão fazia seu peito apertar com as saudades de poder estar de novo reunido na faculdade com aqueles amigos. Mas a vida não deixava, porque ser adulto sempre significou para ele ocupar um posto de trabalho que ele odiava e abandonar todos os sonhos que ele outrora teve.


- Você está linda como sempre… - Murmurou para sua mulher. Seu rosto era delicado, pele escura e cheia de marcas nas bochechas que estavam já marcadas pelo sorriso recorrente de sua felicidade interminável. Uma mulher apaixonada, alegre e que o ajudou a se levantar tantas e tantas vezes no auge de sua depressão.


- Sabe, eu sinto falta de vocês quando não os vejo. - Seus olhos se encheram de lágrimas com a primeira frase. - Minha vida não tem sido nem de perto o que era quando estávamos na faculdade. É difícil arranjar forças para levantar de manhã, eu me sinto sozinho em um lugar que não foi feito para mim. Todo dia eu recebo ordens, todo dia tomo remédios tão fortes que me deixam em um estado sonolento e passivo o dia inteiro. Só consigo passar por tudo isso porque penso em quando vou encontrar vocês. Meus amigos são minha força. -


O silêncio continou predominando. Ele se sentia encarado e até julgado. Será que sua depressão estava voltando? Será que seus amigos pensavam que ele era um covarde que sequer conseguia arranjar motivação para viver? Um silêncio é a coisa mais difícil de se interpretar, porque ele te dá informações muito mais ricas e, ao mesmo tempo, imprecisas do que qualquer palavra jamais conseguirá.Uma tela preta é o auge da subjetividade, porque tem tantos significados e tantas simbologias que é fácil se perder.


- Vocês me entendem, não é? Eu estou me sentindo vulnerável por ter soltado tudo isso de repente, mas eu posso contar com vocês, não é mesmo? Vocês sempre foram ótimos para mim. - Se sentindo apoiado novamente por suas amizades, ele sentou-se e ficou encarando o céu que estava ficando noturno aos poucos, enquanto o Sol ia embora. - Estar aqui à essa hora é perigoso? Ir para casa também não é nenhum pouco fácil. Talvez estejamos presos aqui durante um tempo. Já são mais de dez da noite. -


A noite estava maravilhosa, de fato. A lua brilhava sobre as árvores que rodeavam aquele cenário e o vento fresco batia nas folhagens, dando uma sensação de tranquilidade para ele, que acabara de fazer uma confissão tão dolorosa, dando-se conta de quanto odiava sua vida. Queria mais do que tudo poder voltar no tempo, para quando um clima agradável ou um cenário maravilhoso realmente afetavam no seu humor.


- Dizem que eu preciso seguir em frente, sabe? -


Sua voz foi enfraquecendo. Seus olhos vermelhos e com lágrimas brotando ardiam.


- Mas está ficando cada vez mais difícil. Eu quero vocês de volta. -


O tempo passava, a noite ia se iluminando com o sol que nascia do lado oposto à lua.


- Vocês não tem noção da falta que vocês me fazem. -


Ele estava deitado no chão, postrado.


- Porque eu tinha que ficar por último? -


O sol iluminou todo o lugar, mostrando não só ele, mas todos os arredores e aonde ele estava deitado.


Em volta daquele homem velho, caído, lápides se revelavam já um pouco gastas. Ele estava jogado em cima do retrato de sua mulher, já morta há vinte anos. Ao seu redor, todos os seus amigos também jaziam representados em epitáfios.

Não muito depois do nascer do sol, uma ambulância parou na frente do cemitério e levou o homem embora, deixando para trás as únicas coisas que ele amava. Assim como o tempo fez.

By Vitor Murano