Vez em quando sinto imensa gratidão - sei que deveria ser constante, mas é que alguns problemas também fazem doer. Vim ao mundo, fui convidada e me receberam com doces e tudo o que tenho direito... Obrigada pela recepção. Cresci - até certo ponto - e fui tratada com cuidado e atenção, obrigada por tanta paciência. Me descobri mulher e todos festejaram com alegria, como se tivesse dado a melhor notícia do ano - em partes era -, agradeço pelas boas vindas ao novo mundo. Ainda não me tiraram para dançar, mas acredito que o evento está começando - obrigada aos amores que não deram certo por me ensinarem que nada é o fim do mundo e que há sempre algo por vir. Ando sem pressa, aguardo não-ansiosa pelo momento do parabéns, observo todos dançando ao meu redor e - vez ou outra - me pego sorrindo ao ver os casais constituindo a melodia. Resolvo levantar, dar uma volta... Novos convidados chegam - "Quem são? E... Porque aqueles ali estão indo embora?" - Não obtenho resposta. Tropeço em um dos degraus da pequena escada e ralo a meia calça. A festa já dura algum tempo... Não encontrei meus pais para ajudarem com o machucado. Me preparo para o jantar e os que eram desconhecidos se tornam meus amigos de mesa, daqueles que foram embora eu já não sinto mais falta. Minha roupa é bonita, mas acho que o sangue do machucado assusta quem pensa em se aproximar. Eu queria gritar que aquela música é a minha favorita, e ela é tão sensível que eu acredito representar o meu interior, mas ninguém se preocupa em ouvir. De pouco em pouco os convidados começam a se despedir de mim. À princípio não entendo nada, logo depois noto que aquela festa é a minha. Me despeço com um certo receio, parece que não nos encontraremos novamente tão cedo. Sim, é exatamente isso. As luzes vão se apagando, pessoas novas continuam aparecendo.. "O que está acontecendo?!" - A festa está acabando... "Mas... Faltou aquela música!!!" - Pessoas continuam indo embora e eu permaneço sentada. Sinto que o salão ainda me pertence, portanto não me desespero, ainda há tempo para celebrar - mesmo que sozinha. Mas... Eu aainda tô aqui, não me tiraram para dançar. Olha... Eu estou calma, mas prometa vir antes da festa acabar.
(Mariana Cortez)
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