segunda-feira, 13 de abril de 2015

Existindo

Ele era um homem sozinho, não por medo, mas por opção. Sentia-se melhor se não devesse nada para ninguém e nunca conhecera de fato as pessoas. Mesmo no trabalho pouco se relacionava simplesmente por achar que aquilo só o distrairia e preferia fazer só o dele, sem dar satisfações ou ajuda. Gostava da solidão que sentia mesmo quando andava na multidão, porque era um lugar do qual ninguém podia tirá-lo.


Vivia em uma casa pequena, com móveis pequenos e poucos luxos. Mesmo seu carro não chamava atenção. Era um homem que só existia para ele mesmo, ninguém mais reparava nele. Todos os dias ele via as pessoas que passavam, todos os dias passava por pessoas tão solitárias como ele, e ficava feliz por conseguir ver aquilo com tal distanciamento. Era um talento, um privilégio por assistir as crises diárias das pessoas ao seu redor sem elas nunca atingi-lo. Esse era um dos motivos pelos quais amava ser sozinho.


Era um homem que vivia como um fantasma.


Dessa forma que ele conseguia ser insensível. Observava de longe e aproveitava como se fosse um filme, como se não fosse real. Com o tempo aprendeu a se esconder até mesmo dos familiares que tentavam se aproximar. Mesmo seus pais, já velhos e sozinhos, não existiam mais para ele. Fazia mais de dez anos que vivia assim e não sentia falta de nada da sua vida antiga.

Vivia como um fantasma, mas esquecia-se de que não era. Era na verdade, um homem que se enganava. Sozinho, não vivia. Apenas existia. Sozinho, não fazia nada além de continuar a ser sozinho no conforto, na segurança de sua solidão.

By Vitor Murano

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