sábado, 21 de março de 2015

Hora de parar

Foi preciso que aquela menina tivesse um filho para diminuir seu passo. Não que educar uma criança fosse algo que lhe permitia muito tempo livre ou uma calmaria na vida, mas foi nesse momento que ela aprendeu a não correr.
Foi naquela época, quando a criança ainda anda cambaleando, e depois dá passos curtos que mal acompanham o andar de um adulto, que ela - agora já uma mulher - começou a andar devagar. O filho ditava o ritmo da sua vida naquele momento, não era mais uma correria entre reuniões - quer dizer ainda era isso também - mas quando estava com seu filho, o ritmo quem dava era ele, e isso influenciava sua velocidade pro resto de suas ações pessoais.
Era como uma equação inversamente proporcional, quanto mais devagar aprendia a andar com seu filho, mais rápido seu coração batia. Ela aprendeu que aqueles pedidos do trabalho, que surgiam no meio da madrugada, não eram questões de vida ou morte e podiam esperar o dia seguinte, aprendeu que as ruas não são corredores sem cores e sim espaços de convivência - e com cores diversas -, desaprendeu a atravessar as ruas com aquele ritmo insano, conheceu novos lugares na cidade - a maioria que agradasse o público infantil.
Ela amadureceu, e viu em seu filho, já crescido, aquele frescor da juventude, aquela necessidade de fazer tudo ao mesmo tempo e não perder um minuto sequer, viu em seu filho aquele andar rápido que um dia ela já tivera. 
Até que chegou o momento dela ver seu garoto - agora já um homem - aprender a desacelerar o passo, com seu próprio filho. Quando ela viveu isso, quando foi avó, pôde diminuir seus próprios passos de forma que fez seu coração alcançar um ritmo tão alto que a equação estava completa, era hora de parar.

(Clara Di Lernia)