nos últimos dias pois este é o meu trabalho. Sou supervisora
de uma empresa que cuida da limpeza dos lugares, aquela coisa de limpeza
terceirizada. Alguém contrata a empresa, a gente coloca os funcionários nos
estabelecimentos, e vez ou outra, nós da supervisão aparecemos para ver se está
tudo bem, se os funcionários estão seguindo os valores da empresa, se ainda tem
desinfetante, se estão desentupindo os buracos sem soda cáustica e outras
coisas. A gente preza a autonomia porque não podemos ficar em cima dos
funcionários o tempo todo. Pra esse ramo, tem que ser alguém que consegue
trabalhar sozinho.
Por exemplo, tem a Antonia que trabalha muito bem e está
tudo certo sempre quando vou visitá-la. Mas tem também o Walter que dá em cima
das funcionárias com muita freqüência e sempre dá B.O. então já tive que
deslocar o sujeito pelo menos quatro vezes.
Um dia desses eu estava fazendo a supervisão da limpeza de
um bar de ricaço e um cantor estava ensaiando. Da copa dos funcionários ouvi
uma música que falava assim, consegui guardar porque achei bonita e pedi ao meu
marido que comprasse na barraquinha da feira:
Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
Foi aí que eu lembrei de mim mesma. Eu ajudo na limpeza de
todos esses lugares mas não freqüento nenhum deles fora do meu horário de
serviço. Eu nunca fui convidada a entrar, pois então. Nunca ganhei um ingresso
para o show deste cantor que estava ensaiando, nem pra ir no estádio ver o
coringão, nem pra levar a minha filha no cinema e muito menos para pernoitar
nesses motéis no dia dos namorados ou no meu aniversário de casamento.
E quando lembrei de mim mesma ao ouvir aquela música que o
cantor estava ensaiando, aconteceu igual ao que o cantor dizia. Fiquei meio entristecida
com vontade de beber.
Então fui até o balcão que estava abrindo para o show que
começaria logo mais, pedi uma cerveja no fim daquela tarde e ouvi a música
seguinte sentada no camarote enquanto os funcionários da limpeza do bar
assinavam o ponto deles para que eu levasse para a central.
A música seguinte era bem mais animada e eu fingi que eu era
VIP naquele show.
(Mayra Guanaes)
(Mayra Guanaes)
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