quinta-feira, 13 de outubro de 2016

empatia

do fundinho do coração
a constatação:
tá faltando empatia

dentro e fora da militância
no movimento
no cotidiano
na margem
e no centro
tá faltando empatia


palavra bonita de falar
de articular
bonita de cobrar
mas difícil é praticar
se colocar em outro lugar
Dói

e da dor de outrem é que nunca sei o bastante



Nota: A próxima pessoa a escrever o próximo texto pode escolher entre os seguintes motes:
- Nudez
- Embriagar-se
- América Latina


Mayra Guanaes

sábado, 20 de agosto de 2016

Sororidade seletiva

É fácil o topo falar, quero ver se reconhecer topo e vir
Fazer movimento, somar,
Estar disposta a ouvir.
Mas pra você opressão com opressão se responde,
Violência com violência se resolve,
Pois é aquele ditado:
Se me atacar eu vou atacar,
Mas mana nesse caso é close errado.
Teu feminismo supremo, branco e graduado
Só racha ainda mais esse movimento nada unificado.
Somos as rachas do movimento rachado,
Enquanto estamos aqui nos digladiando,
Os machos estão lá
Fortalecendo o patriarcado.
Mana, será que você não vê que separadas
Somos muito fracas
E unidas somos resistentes.
Onde ta tua empatia pra entender
Aquilo que não te atinge?
Onde ta tua empatia com a solidão das minas pretas?
Onde ta tua empatia com as minas periféricas?
Tua empatia com as mães solo?
Onde ta tua empatia com as terceirizadas?
Com as nordestinas?
Com as indígenas?
Cadê tua empatia comigo, Base da pirâmide
Da qual você é o topo?
Onde ta tua empatia com tudo que é não é branco e elitista?
Mana me responde por quem a tua deusa olha?
Ela chora pelo sangue pobre que jorra?
Ela zela pela carne mais barata do mercado?
Mana a vida é muita treta, mas pare um instante e veja
O que nos uni não deveria ser só gostar de buceta.

Victória Sales




Nota para o próximo texto: Dentro e fora dos movimentos e das militâncias a empatia a quantas nada? Nas relações humanas no sentido amplo, no cotidiano e tals.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Carta para Artur.



Filho,

hoje você completa 5 anos, sua vida está apenas começando. A minha também. Mas acredito que do alto dos meus 20 e poucos anos eu tenha algumas coisas que gostaria que você também soubesse. Escrevo essa carta para que todo meu carinho transborde em palavras e possa assim te tocar de outras formas além daquelas já cotidianas.

Teve um dia, quando você ainda era um bebê e estava dormindo no sofá da sala de nossa casa, em que eu te olhei e senti uma pontada tão forte que meu olhos ficaram marejados. Ao perceber isso olhei para sua avó, que estava ao meu lado, e só consegui dizer que te amava tanto, com tal força, que me dava vontade de chorar. O amor faz isso. É difícil lidar com ele, nos traz sentimentos tão confusos e tão distintos que, por vezes, parece ser mais fácil simplesmente fugir. Não faça isso!

Está tudo bem amar, está tudo bem se sentir perdido. E amor está aí para ser distribuído, aos nossos amigos, às pessoas que nos arrancam sorrisos, às pessoas que queremos estar junto. É melhor errar por excesso de amor do que por falta. O amor existe de muitas maneiras, e são elas que dão real valor à nossa vida. Não acredite se te disserem outra coisa. A gasolina, a engrenagem, o tempo, o trampo. Nada disso vale mais que seu amor.

Esteja sempre presente para as pessoas que você ama, mesmo que elas não estejam lá por você. Dois erros não fazem um acerto e no fim é mais fácil dormir quando nossa parte foi feita. Carinha, você vai amar e não ser amado. Ou talvez não ser amado da maneira que esperava. Não engane seus sentimentos. Vai ficar tudo bem. Vão te dizer para lutar por esse amor. Lute. Mas só existe uma forma de travar essa luta: sendo extremamente sincero com você mesmo e com a pessoa. Converse, se declare, não deixe de dizer como se sente e o futuro que imagina, peça em casamento, cumpra o que prometer. Aceite o que acontecer a partir disso. Você nunca forçará ninguém a sentir o que você deseja, contra isso não dá para lutar. Respeite os outros e os sentimentos deles da mesma forma que gostaria de ter os seus respeitados.

Seja coerente e aja de acordo com o que você sente. Pense antes de agir. Sempre. Quando você diz ou faz algo é impossível voltar atrás. Lide com isso. Não é e não pode ser aceitável não assumir responsabilidade. O que quero dizer, meu amor, é que você é o que faz e o que sente. E o que faz com o que sente. Sempre tem como segurar as pontas, principalmente porque você nunca estará sozinho, as pessoas que te amam estarão ao seu lado.

Eu te amo e vou te segurar o mais forte que puder durante o máximo de tempo que eu conseguir. Estou do seu lado.

Com carinho,
Papai.                                




                                                                 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Microconto

O preto do café se tornou teu gosto e,  

entre bitucas vermelhas, repouso no cinzeiro.

domingo, 21 de junho de 2015

Distância temporária

A saudade é imensa
O choro cai as vezes
O cheiro desperta lembranças

Mas nenhuma distância é eterna

A família e os amigos sentem dor
Os que foram salvos por tuas mãos, gratidão
O tempo pode ser longo

Mas nenhuma distância é eterna

Siga em paz e com amor
Leve em mente tudo o que realizou
O mundo é grande e tem chão pela frente

Mas nenhuma distância é eterna.


(Mariana Cortez)

segunda-feira, 15 de junho de 2015

A Saudade

Todos os dias ele visitava seus amigos. Mais para o fim-da-tarde, depois que havia completado as tarefas chatas e entediantes do dia, não havia nada melhor para ele do que se sentar e relembrar com suas pessoas preferidas no mundo inteiro como a vida costumava ser divertida quando eles todos se sentavam na mesa do bar depois das aulas e ficavam até de madrugada. Agora tudo era diferente, os encontros terminavam cedo, no máximo às 22h, quando seu celular tocava, indicando que estava na hora de voltar para se arrumar e dormir, para no dia seguinte tudo começar novamente.


Ele sorria quando olhava para sua mulher, sempre ao lado de seu cunhado, que também era seu melhor amigo, padrinho do casamento e do primeiro filho. Era engraçado de como tudo se encaminhou para todos conseguirem ficar juntos durante tanto tempo, mesmo depois de tudo o que acontecera. Aquela visão fazia seu peito apertar com as saudades de poder estar de novo reunido na faculdade com aqueles amigos. Mas a vida não deixava, porque ser adulto sempre significou para ele ocupar um posto de trabalho que ele odiava e abandonar todos os sonhos que ele outrora teve.


- Você está linda como sempre… - Murmurou para sua mulher. Seu rosto era delicado, pele escura e cheia de marcas nas bochechas que estavam já marcadas pelo sorriso recorrente de sua felicidade interminável. Uma mulher apaixonada, alegre e que o ajudou a se levantar tantas e tantas vezes no auge de sua depressão.


- Sabe, eu sinto falta de vocês quando não os vejo. - Seus olhos se encheram de lágrimas com a primeira frase. - Minha vida não tem sido nem de perto o que era quando estávamos na faculdade. É difícil arranjar forças para levantar de manhã, eu me sinto sozinho em um lugar que não foi feito para mim. Todo dia eu recebo ordens, todo dia tomo remédios tão fortes que me deixam em um estado sonolento e passivo o dia inteiro. Só consigo passar por tudo isso porque penso em quando vou encontrar vocês. Meus amigos são minha força. -


O silêncio continou predominando. Ele se sentia encarado e até julgado. Será que sua depressão estava voltando? Será que seus amigos pensavam que ele era um covarde que sequer conseguia arranjar motivação para viver? Um silêncio é a coisa mais difícil de se interpretar, porque ele te dá informações muito mais ricas e, ao mesmo tempo, imprecisas do que qualquer palavra jamais conseguirá.Uma tela preta é o auge da subjetividade, porque tem tantos significados e tantas simbologias que é fácil se perder.


- Vocês me entendem, não é? Eu estou me sentindo vulnerável por ter soltado tudo isso de repente, mas eu posso contar com vocês, não é mesmo? Vocês sempre foram ótimos para mim. - Se sentindo apoiado novamente por suas amizades, ele sentou-se e ficou encarando o céu que estava ficando noturno aos poucos, enquanto o Sol ia embora. - Estar aqui à essa hora é perigoso? Ir para casa também não é nenhum pouco fácil. Talvez estejamos presos aqui durante um tempo. Já são mais de dez da noite. -


A noite estava maravilhosa, de fato. A lua brilhava sobre as árvores que rodeavam aquele cenário e o vento fresco batia nas folhagens, dando uma sensação de tranquilidade para ele, que acabara de fazer uma confissão tão dolorosa, dando-se conta de quanto odiava sua vida. Queria mais do que tudo poder voltar no tempo, para quando um clima agradável ou um cenário maravilhoso realmente afetavam no seu humor.


- Dizem que eu preciso seguir em frente, sabe? -


Sua voz foi enfraquecendo. Seus olhos vermelhos e com lágrimas brotando ardiam.


- Mas está ficando cada vez mais difícil. Eu quero vocês de volta. -


O tempo passava, a noite ia se iluminando com o sol que nascia do lado oposto à lua.


- Vocês não tem noção da falta que vocês me fazem. -


Ele estava deitado no chão, postrado.


- Porque eu tinha que ficar por último? -


O sol iluminou todo o lugar, mostrando não só ele, mas todos os arredores e aonde ele estava deitado.


Em volta daquele homem velho, caído, lápides se revelavam já um pouco gastas. Ele estava jogado em cima do retrato de sua mulher, já morta há vinte anos. Ao seu redor, todos os seus amigos também jaziam representados em epitáfios.

Não muito depois do nascer do sol, uma ambulância parou na frente do cemitério e levou o homem embora, deixando para trás as únicas coisas que ele amava. Assim como o tempo fez.

By Vitor Murano

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Sarau das Artes

Não consigo aceitar o tempo. Acho que é porque não entendo términos, e é isso que o tempo faz, termina com coisas... e pessoas. Minha vida hoje não é a mesma de cinco anos atrás, nem de dois, sequer de oito meses.

Imagine então minha avó, ou a sua no caso. Estive hoje em um sarau onde só haviam pessoas idosas, foi lindíssimo, e triste. Uma ode a um tempo que não é mais, uma volta a algo que jamais irá retornar. Ouvi Roberto Carlos e música Italiana, ouvi Brasileirinho e vi senhoras dançando ao som de um samba que não era. Vi e senti significado em cada uma dessas ações, era palpável.

E acima de tudo ouvi lamentos de amores que não foram, ou ainda pior, que já foram. Um amor doído sim, mas com resiliência, com compreensão e aceitação. É simples e simplista nos desfazermos de nossos anciões, mas se os juntarmos e formos capazes de apenas observar, sem julgar ou interferir de lá tiraremos lições para toda uma falange das nossas maiores dores.



Adriano Leonel