quarta-feira, 1 de abril de 2015

Dos restos

 Não me sobrou nada
 O que tem em mim é um peso de 60 anos
 de amputações


 Eu choro toda vez que a luz da realidade me invade
 porque eu choro toda vez ao lembrar que envelheço

 A velhice chega quando a lembrança
 são lembranças,
 quando se é jovem só se pode lembrar uma única época,
 a infância

 Hoje só penso de como eu deveria ter desistido da vida
 para viver
 E digo: - jovens! Abandonem a vida...

 Pare de só ler,
 porque só não será nada
 Livro é para movimentar também,
 livrar-se do si que não é você

 Se era mais gostoso caminhar no sol comendo uma maçã,
 porque me vesti tanto (?)
 porque me apedrejei em torres de cimento;
 porque tantos papéis;
 porque acumulei objetos (?)

 Que caverna é essa que nunca saímos?

...

[Eu gritaria até meu pulmão cansar, mas nem fôlego me resta. Converso através de uma máquina e nesse momento ela me pede para aguardar enquanto o scanner está descendo, para minha morte ser perfeita só falta tocar uma música do Bowie de fundo...]

 Dos restantes finais nada me resta
 das lembranças que pesam só o amor valeria
 se ele um dia tivesse permanecido
 mas nem isso...

 E o que me resta, ir embora?
 Vou sentar...


(Paulo Afonso S. da Silva)





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