Me preparei a vida inteira para aquele momento, cada suor derramado, cada hematoma, cada dia de jejum, e sacos e sacos de gelo. Consegui um Cartel de 18x1, sendo que minha única derrota foi na segunda luta da carreira e que só aconteceu porque eu desequilibrei e acabei levando um direto na fuça. Adorei que minha chance ao cinturão tenha vindo logo na vigésima luta da carreira, gosto dos números redondos: os zeros me lembram medalhas.
“Flutue como uma borboleta, mas pique como uma abelha.”
Subi as escadas com os olhos fechados, dei uma volta deixando minha mão direita raspar pelas cordas, sentei no banco e esperei o que pareceu ser uma eternidade para o campeão entrar na arena. As luzes apagaram, senti o som ensurdecedor como a primeira pancada, primeiro gritos depois acordes de guitarra, qual o nome da maldita música? e no final o silêncio, eu posso jurar que ouvi os passos dele se aproximando, na hora me veio na mente um comentário do treinador sobre meu adversário daquela noite “Menino, você vai precisar fazer a luta da sua vida, aquele rapaz desvia como a inspiração e acerta como se pontuasse o final de um poema. Ele conseguiu transformar o boxe em lirismo e você vai precisar de uma narrativa melhor do que Dostoiévski pra levar o cara pra lona.” e nessa hora ele subiu as mesmas escadas que eu tinha subido ao que parecia ser meia hora. Ele foi andando direto até o canto dele, calmo, tranquilo e me olhou, só lembrei do poeta fingidor.
Do momento em que tocamos luvas com um sorriso no rosto de ambos, até o cruzado de esquerda no meu queixo tudo me parece nublado. Consigo lembrar de acertar dois diretos, de sentir o ar escapar ao levar um soco nas costelas, teve uma hora que cheguei até a pisar sem querer no pé dele, mas de resto só vendo a reprise na tv. No derradeiro momento eu estava bem, parecia até que tinha a dianteira, jab atrás de jab, alguns entrando na guarda, vi nos olhos dele o que constatei como medo, nessa hora não me segurei, e ao armar o soco acabei levantando demais o cotovelo, abri a guarda e com uma esquerda rápida fui ao chão. E dessa forma virei apenas mais uma parte de uma epopeia que ainda está sendo escrita.
Do momento em que tocamos luvas com um sorriso no rosto de ambos, até o cruzado de esquerda no meu queixo tudo me parece nublado. Consigo lembrar de acertar dois diretos, de sentir o ar escapar ao levar um soco nas costelas, teve uma hora que cheguei até a pisar sem querer no pé dele, mas de resto só vendo a reprise na tv. No derradeiro momento eu estava bem, parecia até que tinha a dianteira, jab atrás de jab, alguns entrando na guarda, vi nos olhos dele o que constatei como medo, nessa hora não me segurei, e ao armar o soco acabei levantando demais o cotovelo, abri a guarda e com uma esquerda rápida fui ao chão. E dessa forma virei apenas mais uma parte de uma epopeia que ainda está sendo escrita.
<Augusto Nessuno>
Nenhum comentário:
Postar um comentário